terça-feira, dezembro 22, 2015

Animais: Porque amamos uns e comemos os outros?

Muitos de nós temos animais, muitos de nós amamos animais. Cuidamos deles, damo-lhes comida, uma casa e afecto, choramos quando eles morrem. A estes animais chama-mos "animais de estimação", no entanto, a nossa atitude muda completamente em relação a outros aos quais chamamos de "jantar". E por esta questão de semântica achamos-nos no direito de tratar esses animais da forma mais cruel possível, desde que isso reduza o preço por quilo? É literalmente o que fazemos. Existe em Portugal uma lei que protege os animais, mas que põe de parte todos aqueles que sejam para consumo humano. Se criarmos um animal destinado a produzir carne, leite ou ovos, podemos sem restrições submeter esse animal a condições que, se fossem aplicadas a um cão ou a um gato nos levariam à prisão. Mas porque temos nós esta dualidade de critérios, esta percepção tão diferente de uns animais e de outros?
Em culturas onde se come carne, em 7 milhões de espécies de animais, as pessoas tendem a classificar apenas um punhado como comestível. Tudo o resto é considerado não comestível, e repugnante. A questão é: Por que nós não sentimos repulsa pelas especies selecionadas que nós aprendemos a ver como comestíveis? E por que nós nunca perguntamos "por que"?

É uma questão cultural, vivemos num sistema de crença de que necessitamos de comer animais (Carnismo). Comer animais não é uma necessidade mas sim uma escolha e as escolhas partem sempre de crenças.

O carnismo é uma ideologia dominante e enraizada. O que quer dizer que é tão difundido, que a sua doutrina é vista como algo dado, ao invés de uma escolha. E é uma ideologia violenta. Carne não pode ser adquirida sem violência. Veja este video:


Ideologias tais como o carnismo contrariam valores humanos fundamentais.
Valores como compaixão, justiça e autenticidade.

O carnismo usa então mecanismos de defesa que distorcem os nossos pensamentos e valores:

•Negação (invisibilidade) – Os animais são criados em locais fechados e isolados. A maioria das pessoas não sabe como os mesmos são produzidos.
Justificação – Justifica o acto de comer animais como, normal, natural e necessário. Algo também feito por outras ideologias (escravatura, dominação masculina, supremacia heterossexual).
Distorções cognitivas – Através de ver os animais como abstracções, seres sem individualidade (Um porco é um porco, e todos os porcos são iguais), inferiores.

O o carnismo não é mais do que uma das muitas atrocidades, ideologias violentas que fazem parte do legado humano.
E embora a experiência de cada conjunto de vitimas seja única, as ideologias por si só são similares.
A mentalidade que permite essa violência é a mesma. É a mentaliade da dominação e subjugação, do privilegio e da opressão.
É a mentalidade que nos faz transformar alguém em algo, que reduz uma vida, a uma unidade de produção
É o poder que torna em direito a mentalidade que faz com que nos sintamos no direito de exercer completo controle sobre as vidas e mortes daqueles com menos poder, apenas porque podemos.
E nos sentimos justificados nas nossas ações porque eles são só "selvagens", "mulheres", "animais". É a mentalidade da carne.

Fonte:  Melanie Joy, A mentalidade da carne, TEDx (https://www.youtube.com/watch?v=87mRjW94AJo)

Em baixo a palestra dada por Melanie Joy no TEDx para assistir:

Aqui as primeiras 21 páginas do livro "Porque amamos cachorros, comemos porcos e vestimos vacas" em Português.
Clica aqui e faz download do livro completo em Inglês. (Torrent) 

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